segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Revista “A Espada e a Espátula” nº5


Confiram o lançamento da revista bimestral de agosto -setembro de 2012 do Projeto Spurgeon e Projeto Ryle "A Espada e a Espátula ", (PARA BAIXAR O PDF, CLIQUE NA IMAGEM AO LADO) 

 Nessa edição, você confere com exclusividade o sermão inédito de J.C.Ryle "O Poder do Espirito Santo" na integra! E tambem, uma entrevista exclusiva com o presidente e moderador da Igreja Anglicana Reformada, Bispo Josep Rossello (alem de um artigo escrito por ele para esse edição. E com exclusividade, você lê nessa edição artigos exclusivos de Walter McAlister, Atila Calumby e Caio Andrade, e textos de Marcelo Lemos, Sara de Cerqueira, Philip Doddridge e Tim Conway na Conferência Fiel para Joves desse ano 

 A revista está com 13 Mbs, caso você tenha problemas para baixar a revista, tente baixar visualizar ela e baixar o PDF nesse link aqui

terça-feira, 31 de julho de 2012

Galeria de Pastores

A seguir, lista oficial de pastores que serviram na Igreja Presbiteriana da Bela Vista, São Paulo, desde sua organização: no caso de pastores sem foto, quem tiver fotos, mande-nos para projetospurgeon@gmail.com

Rev. João Marques da Mota Sobrinho 
(1929)
+
Rev. Jayme Porter Smith
1930 (1o. Semestre)
+
Rev. Paulo Miranda Costivelle
1930 (2o. Semestre)
+
Rev. Firmino Orssine Miguez
(1931)
+
Rev. José Carlos Nogueira
(1932-1933)
+
 Rev. Roberto Frederico Lennington
(1934)
+
Rev. Avelino Boamorte

(1937- 1943)
+
Rev. Sebastião Silva Machado 
1944 
(1o. Semestre)
+
Rev. Jorge Goulart 
(1944-1946)
+
Rev. Paulo Pernasetti 
1947 – 1949 (1o. Semestre)
+

Rev. Jorge César Motta 

(Set.1949 – Jun.1950)

Rev. Pérsio Gomes de Deus
1950 – 1953 (1o. Semestre)
+
Rev. Samuel Martins Barbosa 
1953 - 1966
+

Rev. Mozart Noronha
(sem data)
+
Rev. Francisco Jacinto Pereira Filho
(sem data)
+
Rev. Samuel Liberato
(sem data, até 1976)
+
Rev. Paulo Viana de Moura
(1976-1985)
+
Rev.Moisés Araújo dos Santos
(1986-1999)
+
Rev. Breno Prudente O. Jr.
(2000-2005)
+

Rev. José Roberto Silveira
(1º semestre de 2006)
+
Rev. Elton Souza dos Santos
(agosto de 2006 até o presente)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Teologia do Culto Presbiteriano


Por Francisco Macena da Costa.

Abordar a teologia do culto, mesmo em círculos presbiterianos, não é uma tarefa fácil por algumas razões: existe grande diversidade de opinião sobre o assunto, além da tensão histórica entre os estilos tradicional de culto e os modelos contemporâneos. Este último muitas vezes tem sido incorporado integralmente, ou com pequenas modificações entre os presbiterianos. A veracidade do pluralismo, litúrgico entre os presbiterianos, pode ser verificada em visitas aos cultos nas igrejas da cidade. Certamente haverá uma estrutura básica de elementos de culto, sendo o estilo de culto muitas vezes distinto entre as igrejas.

A diversidade litúrgica das igrejas presbiterianas, dependendo da região, reflete modelos emergentes de culto, formatos mais avivados, valorização dos hinos tradicionais, e ainda que em pequeno número, refletirá a percepção de alguns irmãos mais austeros que foram denominados de neopuritanos. Estes irmãos buscam eliminar do culto os conjuntos corais, oração das mulheres no culto público, advogando a retirada integral dos instrumentos musicais, e ao mesmo tempo, promovendo a adoção exclusiva do cântico de salmos metrificados. O Dr. Augustus Nicodemos entende que “essas posições acabaram isolando os adeptos dessa linha do movimento de outros reformados que adotam a teologia de Westminster, mas que discordam de que os pontos acima façam parte da essência da fé reformada ou do puritanismo”[1] .

Não podemos apenas olhar para a realidade interna dos presbiterianos. Também precisamos olhar para o cenário evangélico moderno. À medida que os evangélicos crescem no Brasil, a questão litúrgica volta a ocupar um lugar de destaque, pois ainda que exista uma ordem de elementos comuns do culto entre os evangélicos brasileiros, outros elementos distintos foram incluídos tais como: danças e coreografias, cultos celebrados na forma de show onde só o grupo de louvor (também chamados de levitas) canta todas as partes da liturgia em meio a canhão de luzes, ornamentações temáticas e etc. Outros seguimentos usam o culto como lugar para seções de exorcismos, unções com óleo, apresentação de artistas, políticos e etc. Em meio a todos estes estilos e notadas distorções, precisamos resgatar e valorizar os erários da tradição reformada, principalmente sua teologia do culto. A reforma do culto é rico legado presbiteriano. Por isso nosso objetivo nessa palestra é basicamente responder a seguinte pergunta: Quais os conceitos e práticas fundamentais do culto presbiteriano? Para responder a questão proposta, precisamos considerar três aspectos do culto na tradição reformada:


O princípio regulador do culto cristão.


Entre os presbiterianos, um aspecto distinto quanto ao pensamento litúrgico diz respeito ao princípio regulador do culto cristão. Sean Michael, em seu livro “O Cristão Presbiteriano” diz o seguinte:

“Historicamente os presbiterianos tem declarado que a Palavra de Deus é que regula o nosso culto, de maneira que ele esteja fundamentado naquilo que Escritura revelam. Se nos devíamos do modelo bíblico, estamos cultuando a Deus de modo inaceitável”.[2] 

O “princípio regulador do culto” é exposto pela Confissão de Fé de Westminster nos seguintes termos:

“O modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sobre representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras” (CFW 21.1).

O fundamento bíblico que sustenta o regulador do culto, segundo os presbiterianos é o que Deus mesmo expressou no segundo mandamento, na passagem de Êxodo 20.3-6. Calvino entendeu que no segundo mandamento o Senhor “se declarou o único Deus, assim agora Ele afirma quem Ele é e como deve ser servido e honrado”[3] .

Através do quadro abaixo podemos ver como os presbiterianos confessam a teologia do culto por meio do Catecismo Maior de Westminster:

Resposta à pergunta 108:
Resposta à pergunta 109:

O receber, observar e guardar, puros e inalterados, todo o culto e todas as ordenanças religiosas tais como Deus instituiu em sua Palavra, especialmente a oração e ações de graças no nome de Cristo, a leitura, a pregação e o ouvir a Palavra; a administração e recepção dos sacramentos; o governo e a disciplina da igreja; o ministério e sua manutenção; o jejum religioso”(CM 108)


Os pecados proibidos no segundo mandamento são - o estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer culto religioso não instituído por Deus. (CM 109)


Os presbiterianos fazem uma distinção de suma importância entre elementos de cultoque são ordenados pela Escritura, e as circunstâncias que não são reguladas pela bíblia e podem ser ordenadas de acordo com o acordo humano e prudência. Os Elementos de culto são os seguintes: leitura e pregação da Palavra; a ministração dos sacramentos; a apresentação de ofertas; o cântico de salmos e hinos; e às vezes os juramentos solenes, ações de graças e jejuns em ocasiões especiais. As circunstâncias são as coisas necessárias para que um elemento de culto seja alcançado ou aplicado. Os cânticos dos salmos e hinos são elementos de culto que circunstancialmente serão acompanhados de violão ou piano, ou sem instrumentos. O elemento ordenado é louvor a Deus por meio do cântico – o acompanhamento é circunstancial. A reunião de adoração no dia do Senhor é um elemento de culto que circunstancialmente ocorre num determinado horário. É elemento de culto a pregação da Palavra, já a roupa que o ministro usa (se toga ou terno) é uma circunstância. Como se vê a teologia do culto, entendida pelos presbiterianos não engessa o culto em uma circunstância exclusiva, antes oferece os princípios de adoração fundamentados na Palavra, para que a igreja adore o Senhor com a consciência pura.


A relação de culto e pacto


O pensamento reformado tem sido amplamente conhecido como uma “teologia do pacto”. Sproul, um dos expositores do pensamento reformado, afirma que a “teologia reformada vê a estrutura primária da revelação bíblica como sendo a do pacto”[4] . Deus é sempre o sujeito do pacto. A Escritura testemunha que Deus decidiu tomar um povo para si mesmo (Êx 6.7; Jr 30.22; 2Co 6.16-18; 1Pe 2.9). É ele quem soberanamente estabelece uma relação com suas criaturas. Deus “fala graciosamente ao comprometer-se com suas criaturas e ao declarar a base sobre a qual se relacionará com sua criação (...) Nada de barganha, troca ou contrato caracteriza a alianças divinas da Escritura”[5] . Considerando a estrutura do pacto estabelecido por Deus, os estudiosos reformados quando expõe o culto na visão presbiteriana, destacam que o culto possui uma natureza pactual. Veja o quadro abaixo:


 


Os reformados perceberam que Deus fez promessas onde às pessoas são desafiadas a responder com fé. Deus toma a iniciativa de ir ao encontro do seu povo, através de Suas graciosas promessas, e Seu povo responde com fé, o que resulta em atitudes que glorificam em amor o Nome do Senhor. Deus nos encontra onde estamos. Ele se acomoda a nossa “diminuta capacidade” (Calvino) através da Sua Palavra e sacramentos, e nós respondermos na Sua presença com orações e louvores.

Na perspectiva reformada o culto nos molda por meio do relacionamento com Deus, relacionamento esse começado de forma unilateral por Deus. Domingo após outro, todas as vezes que prestamos culto ao Senhor sua aliança é renovada, pois ouvimos suas promessas, comprazemo-nos em sua Palavra e somos enviados ao mundo para glorificar seu Nome. Participar do culto “é ser confrontado com o Deus que age – ou melhor, com Deus agindo.”[6] Sendo assim, o culto ocupa um lugar muito importante no aprofundamento de nossa comunhão com Deus, porque implica na reapresentação, semana após semana, do Evangelho da graça de Deus. Devido a natureza pactual do culto presbiteriano, podemos dizer que o fato distintivo da liturgia reformada se manifesta na realidade sermos encontrado por Deus e gozarmos da graça de ouvir Sua voz no culto, através da Palavra e dos Sacramentos. Essa visão pactual do culto superou a tendência romanista de tentar “ver” Deus no culto e sem dúvida é de fundamental importância para resistir a tendência moderna que tentar “usar” Deus no culto. O entendimento pactual do culto implica que:

“os sermões devem voltar a ser rigorosamente expositivos para que a Igreja ouça realmente a Palavra de Deus e não opiniões humanas. (...) A oração deve ser restaurada como privilégio da igreja de falar ao Deus que se aproxima deles. Os sacramentos devem ser vistos como sendo a bondade do Senhor em dar expressão visível ao Evangelho”[7] .


A carta pastoral da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre liturgia.


A igreja Presbiteriana do Brasil esteve reunida em seu Concílio máximo no ano de 2010 e aprovou uma carta pastoral para todas as igrejas federadas. A carta é extensa e não podemos tratar de todos os aspectos implicados nela, mas pelos alguns pontos devemos ser destacados, a saber:

1.         O princípio regulador do culto. A posição oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma o princípio regulador do culto cristão. A carta pastoral expressa que “nem todas as atividades realizadas pelos seres humanos são próprias, adequadas ou eficazes para estes fins elevados. Embora muitas dessas atividades não sejam intrinsecamente erradas em si mesmas, elas não cabem no culto prescrito por Deus” (Itálico meu). De acordo com o documento, os elementos de culto reconhecidos na bíblia e definidos em nossos símbolos de fé[8] , são os seguintes:

ü  Orações.

ü  Leitura da Palavra de Deus.

ü  Pregação da Palavra de Deus.

ü  Cantar salmos, hinos e cânticos espirituais ou sagrados.

ü  Celebração da Ceia (quando houver).

ü  Ministração do batismo (quando houver).

ü  Juramentos religiosos.

ü  Votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais.

ü  Ofertas[9] .

2.         Os concílios e o culto. A carta pastoral reafirma que é responsabilidade dos “pastores zelar para que o culto a Deus oferecido nas igrejas onde pastoreiam transcorra não somente de acordo com os padrões bíblicos no que se refere aos seus elementos e circunstâncias, mas também quanto à vida e atitude dos adoradores”. Chamo a atenção para o fato de que a carta deixa claro que o pastor é um supervisor da liturgia e não um proprietário dela. O texto diz:

O ministro não é livre para inventar elementos ou conduzir o culto público em princípios contrários às Escrituras interpretadas pelos símbolos de fé. Existem várias resoluções emitidas pelo Supremo Concílio e sua Comissão Executiva que colocam os limites apropriados à função litúrgica do pastor. De acordo com elas, a liturgia é prerrogativa do pastor da igreja local, podendo o presbitério ao qual a igreja é jurisdicionada supervisionar os cultos com vistas à conformidade com os padrões de fé da denominação. Isto significa que os presbitérios podem interferir quando a prática cúltica das igrejas jurisdicionadas fugir aos padrões e preceitos denominacionais. Da mesma forma, os conselhos das igrejas locais devem zelar juntamente com o pastor para que o culto seja realizado de acordo com estes padrões e preceitos[10] . (Itálico meu)


3.          Sobre corais, salmodia exclusiva e participação da mulher no culto. Sem dúvida este ponto é um dos mais polêmicos da carta, devido à ressurgência cada vez maior do pensamento puritano no Brasil. De acordo com a carta:

“algumas atividades exercidas historicamente durante o culto da IPB têm sido alvo de controvérsia mais recente dentro da denominação, como a participação de corais, o uso de instrumentos musicais, o entoar hinos e cânticos contemporâneos em vez de exclusivamente os salmos, e a participação de mulheres cristãs no culto público, orando ou lendo as Escrituras. A Comissão Executiva da IPB[11] , respondendo consulta sobre o assunto, declarou que a proibição destas coisas não encontra amparo nos símbolos de fé da Igreja e nem nos Princípios de Liturgia que regem seu culto, e que, portanto, o cântico coral, o acompanhamento instrumental, os hinos e cânticos, bem como a participação das mulheres cristãs nas orações e leitura da Palavra podem fazer parte da liturgia presbiteriana”. (Itálico meu).

4.         As danças litúrgicas. Devido o impulso de ministérios de outras denominações, que se destacaram notadamente por criar a dança litúrgica como elemento de culto, muitas igrejas presbiterianas passaram a copiar a prática. Na carta pastoral, este assunto foi mencionado com o devido cuidado exegético e amor cristão. Com respeito à dança litúrgica a carta pastoral afirma que:

“As danças são mencionadas mais de 25 vezes nas Escrituras, em contextos de festa popular (Jz 21.21, 23; Ct 6.13; Mt 11.17; Lc7.32; 15.25), vitórias militares (Êx 15.20; Jz 11.34; ISm 18.6; 21.11; 29.5; 2Sm 6.14, 16; lCr 15.29; Jr 31.4, 13; Lm 5.15), expressão de exultacão religiosa (SI 150.4) e de festividades pagãs (Êx 32.19; Mc 6.22). Note-se que tais ocorrências não se referem a danças no contexto do culto público oferecido a Deus, quer no Antigo Testamento ou no Novo Testamento. Além disto, a quase totalidade destas menções é encontrada em passagens histórico-descritivas, o que dificulta usá-las como norma para o culto do Novo Testamento”.

Desde que a dança não seja instrumento de tropeço para testemunho cristão ou instrumento de impureza sexual, nada impede o cristão de dançar como uma manifestação de alegria “fora do ambiente de culto”. Os salmos 102 e 150, que fazem menção de danças foram interpretados como passagens que “conclamam toda a criação a adorar o Deus que habita nos céus” e por essa razão “não provam que havia danças no templo de Jerusalém durante os cultos a Deus”. O documento ainda afirma que a dança coreográfica cabe em outro momento fora do culto “como atividades culturais das igrejas locais e, nestes casos, sempre a critério de seus conselhos e desde que não provoquem a sensualidade ou escândalos”. Por fim, ainda sobre a dança, a carta diz:

“O Supremo Concílio entende que as danças não fazem parte do culto público revelado por Deus, e assim, determina a seus pastores, concílios e igrejas federadas a que não incluam no culto a Deus, independentemente do local onde este culto está sendo oferecido, as chamadas danças litúrgicas, coreografias, ministérios de danças, danças proféticas ou quaisquer outras variações afins, inclusive a pretexto de que são circunstâncias do culto”. (Itálico meu)


5.         Palmas e aplausos. Algumas passagens falam que Deus é aplaudido – Sl 47.1; cf. Sl 98.4 – Segundo o entendimento da Carta Pastoral tais passagens não provam que Deus era aplaudido no culto, antes indica o reconhecimento da majestade de Deus, da mesma forma que os povos orientais reconheciam seus soberanos por meio de aplausos. Além deste ponto, em algumas celebrações de cultos, algumas comunidades presbiterianas se manifestavam aplaudindo alguns atos apresentados no culto. Sobre isto a carta diz:

“O aplauso a homens durante o culto se constitui numa violação de um dos princípios centrais do culto a Deus, que é a sua teocentricidade. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória” (Sl 115.1). Aplaudir corais, coros e grupos após terem participado da liturgia torna tais participações em espetáculo, show e apresentações, tornando estas circunstâncias em fins em si mesmas, desvirtuando o seu caráter secundário e tornando o culto a Deus em culto centrado no homem”.

Conclusão.

Quais são os desafios em relação à teologia do culto, tal como entendem os presbiterianos? O primeiro desafio diz respeito à firmeza em sustentar a validade do princípio regulador do culto cristão. Apesar das duras críticas que o princípio tem sofrido, sendo taxado acidamente como instrumento gerador do legalismo por parte de alguns de seus interpretes que reafirmam a supremacia da Escritura. De fato, aqueles intérpretes que não reconhecem a Bíblia como Palavra de Deus, naturalmente terão dificuldades em aceitar o principio regulador do culto, tendo que vista que não aceitam a Palavra de Deus como autoridade em matéria de fé e prática.

Outro desafio que não podemos negar, é que algumas inovações litúrgicas já foram introduzidas, e enraizadas em algumas comunidades presbiterianas, o que exige do pastor, conselho e concílios um maior esforço no tocante a orientação e supervisão do culto, com o objetivo de restaurar o culto de Deus por meio da exposição fiel de seus princípios bíblicos. Acredito que Sean Michael foi preciso quando disse:

“As linhas divisórias entre “culto tradicional” e culto “contemporâneo/inovador” podem não ser só ideológicas, mas motivadas pela passagem de gerações. É importante descobrir o que é central e que é passageiro para um entendimento do que significa cultuar a Deus”[12] .

Devemos ainda considerar, com corar de vergonha, que em nosso contexto, há uma geração inteira que cresceu sem conhecer o princípio regulador do culto cristão. Para muitos, inclusive presbiterianos, teologia reformada e confessional é novidade. Por isso, se faz urgente resgatar o sentido bíblico da adoração, através do ensino puro da Palavra e dos nossos símbolos de fé. É exatamente, por haver uma lacuna quanto à base bíblica de algumas práticas litúrgicas perpetradas nos cultos contemporâneos, diga-se de passagens improvisadas como mero ativismo religioso, que o princípio regulador do culto cristão mostra o seu valor libertador, afinal os adoradores com a consciência amparada pelas Escrituras, respondem com amor e, sem sacrificar a obediência, por meio de práticas litúrgicas que o Senhor mesmo ordenou em sua Palavra. Devemos buscar nossa unidade litúrgica, ao invés de tomarmos nossas emoções, ou mesmo os modismos, como base para o culto de Deus. Com precisão, Sean Michael toca no cerne do grande desafio de nossa geração quando diz:

“Devemos todos nos comprometer a examinar as Escrituras cuidadosamente e submeter-nos ao Senhorio de Cristo, que nos fala por seu Espírito, por meio das Sagradas Escrituras, confiantes de que, à medida que todos amadurecem na fé, chegamos à mesma visão”[13] .

E, por fim temos o desafio de buscar a reforma cuidando para não ferir os aliados com o “fogo amigo”. Se os elementos do culto forem preservados, não precisamos ter medo de aplicações diferentes. Por isso, penso que o caminho a ser seguido para alcançarmos a unidade no culto é entender que o princípio regular do culto não mata a diversidade de estilos litúrgicos. Nossa carta pastoral deixa claro que:

 “É possível, e mesmo desejável, que haja uma variedade saudável quanto à sequência, frequência e intensidade com que os elementos de culto são empregados. A razão é que as Escrituras não nos fornecem uma ordem litúrgica fixa e estabelecida, e a tradição reformada jamais adotou uma liturgia única para todas as suas igrejas”.

Note você que não é feita nenhuma autorização à adoção de elementos não autorizados de culto. O que entendo quando a diversidade litúrgica entre os presbiterianos diz respeito a pontos não essenciais, onde a diversidade pode ser tolerada: cultuar com instrumentos ou retirando os instrumentos; dar graças pelo nascimento de Jesus na ocasião do Natal, ou dar graças pela morte e ressurreição de Jesus na ocasião da páscoa, seguindo a data do calendário cristão, aproveitando as oportunidades para pregar o Evangelho, principalmente quando, tudo que se faz nessas celebrações estão ordenados – leituras, orações, cânticos e pregação – em tais situações especiais a data passa a ser apenas uma mera circunstância, ou mesmo como uma ocasião especial de ação de graças. Ainda cito o uso ou não da toga pelo ministro, o estilo musical do grupo de louvor (desde que não comprometa ordem e a reverencia), a arte da comunicação do Evangelho (arte homilética), a frequência na ministração da ceia (alguns fazem uma vez por mês, outros todos os domingos). Nesses casos, enquanto a igreja permitir com toda prudência cristã essa diversidade em tais pontos secundários, terei o máximo de respeito e tolerância com meus irmãos. Se um dia a igreja em sua maioria desejar rever tais pontos assumindo uma posição contrária, ainda assim andarei com meus irmãos, pois como disse, tenho tais pontos como secundários.

O espírito de João Calvino é um grande exemplo quanto à capacidade de absorver e aceitar a verdade, sabendo ser firme, nada obstante sem perder a capacidade de ser tolerante em certos aspectos que não afetam a essência da fé. Escrevendo aos ingleses de Frankfurt em 1555, Calvino disse:

“Nas questões indiferentes, tais como ritos externos, mostro-me indulgente e flexível; (...) Na liturgia anglicana, conforme descreveram para mim, vejo que havia muitas coisas fúteis passíveis de tolerância. (...) Quanto a mim, se não lhes considerasse excessivamente rigorosos com aqueles cuja fraqueza não lhes permite escalar os degraus mais elevados da escada, admoestaria novamente outros a não serem complacentes demais na própria ignorância; depois, a que não embaracem com teimosias o progresso desse santo edifício; e por fim, a que não se desviem por causa de ciúme insensato.”[14] 

Outro bom exemplo foi à questão em torno das velas.  Consultado sobre o uso das velas na liturgia, o reformador disse:

“Tenhamos como resolvida a questão neste ponto, para que possamos fazer concessões mútuas em todas as cerimônias que não envolvem qualquer prejuízo à confissão de nossa fé e para que o objetivo da unidade da Igreja não seja destruído por rigor excessivo ou enfado de nossa parte”[15] .


Que o Senhor nos ajude!


Francisco Macena da Costa é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil em Campeba, Fortaleza


[1]  LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a Igreja: Ascenção e Queda do movimento Evangélico Brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p. 189
[2]  LUCAS, Sean Michael. O Cristão Presbiteriano. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. p. 121.
[3]  CALVINO, João. A Verdade para Todos os Tempos: um breve esboço da fé cristã. São Paulo: PES 2008. p. 25
[4]  SPROUL, R. C. O que é teologia reformada? São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.84.
[5]  ROBERTSON, O. Palmer. Cristo dos Pactos Campinas: Luz Para o Caminho, 1997, p. 9 e 18.
[6]  MCKIM, Donaldo (editor). Grandes Temas da Tradição Reformada. São Paulo: Pendão Real, 1998, p. 258.
[7]  BOICE, M. James, et al. Reforma Hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 165
[8]  Ver: Fp 4.6; lTm 2.1; Ef 5.19; SI 100.2; Cl 3.16; 2Co 8.1-9.15; 2Tm 4.2; Lc 4.16; At 15.21; 20.7; Dt 6.13; Ne 10.29; Ec 5.4-5; Jl 2.12; Mt 9.15; ICo 11.23-29; At 20.7.
[9]  A bênção apostólica não consta da relação de elementos de culto, quer na CFW quer no PL. Ela é prevista na CI/IPB, artigo 31, que diz apenas que sua impetração é prerrogativa exclusiva dos pastores. Sua não inclusão nas listas de elementos, portanto, não a torna obrigatória ao final dos cultos. A questão das línguas e profecias durante o culto já foi tratada pelo Supremo Concílio da IPB em sua CARTA PASTORAL SOBRE O ESPÍRITO SANTO, aprovada no SC-IPB/1998, doe. CXIX.
[10]  CE/IPB-95-124 – Doc. CVIII; SC/IPB-98 – Doc. CXIII; CE/IPB-1982 – Doc. 84; CE/IPB-2005 – Doc. XVIII.
[11]  CE/IPB – 2008-Doc. 193
[12]  LUCAS, op.cit. p. 118
[13]  Idem, p. 122
[14]  CALVINO, João. As Cartas de João Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p.118,119
[15]  CALVINO, João. Carta aos irmãos de Wezel, 13 de março de 1554. In: LEITH, John H. A Tradição Reformada: uma maneira de ser a comunidade cristã. São Paulo: Pendão Real, 1996. p.298